Imagem de fundo por Paradanmellow
Assim era o Império, e sempre seria, não importava o lugar ou o povo. Todos eles eram instrumentos cegos para as mãos que os modelavam
(Steven Erikson)
Título
Jardins da Lua
O Livro Malazano dos Caídos - Livro I
Autor
Steven Erikson
Editora
Arqueiro
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Desde pequeno, Ganoes Paran decidiu trocar os privilégios da nobreza malazana por uma vida a serviço do exército imperial. O que o jovem capitão não sabia, porém, era que seu destino acabaria entrelaçado aos desígnios dos deuses, e que ele seria praticamente arremessado ao centro de um dos maiores conflitos que o Império Malazano já tinha visto.
Paran é enviado a Darujhistan, a última entre as Cidades Livres de Genabackis, onde deve assumir o comando dos Queimadores de Pontes, um lendário esquadrão de elite. O local ainda resiste à ocupação malazana e é a joia cobiçada pela imperatriz Laseen, que não está disposta a estancar o derramamento de sangue enquanto não conquistá-lo.
Porém, em pouco tempo fica claro que essa não será uma campanha militar comum: na Cidade do Fogo Azul não está em jogo apenas o futuro do Império Malazano, mas estão envolvidos também deuses ancestrais, criaturas das sombras e uma magia do poder inimaginável.
Em Jardins da Lua, Steven Erikson nos apresenta um universo complexo de cenários estonteantes e ações vertiginosas que mostram por que esta é considerada uma das maiores sagas épicas.
Esqueça tudo que você conhece sobre livros de fantasia. Jardins da Lua não é parecido com nenhum deles. É único - e sua unicidade tem pontos positivos e negativos. É tão único, que é até difícil de começar a escrever sobre ele. Demorei mais de mês para conseguir terminar, pois não é um livro de leitura fácil. É confusa - tão confusa que sequer consegui escrever um pequeno resumo da trama de modo satisfatório.
Dito isso, vamos ver o que vai sair dessa resenha - ou dessa experiência literária.
O primeiro ponto é: não deixe se enganar pela sinopse como eu me deixei. Não abra esse livro esperando para ler a história de Ganoes Paran. Jardins da Lua apresenta mais de vinte personagens e não há um personagem principal. Ganoes Paran nem sequer é o personagem da capa do livro.
Apesar de ser um livro de fantasia, para a surpresa de muitos (minha, inclusive), ele foge do clássico "Saga do Herói", presente nos mais diversos livros da literatura contemporânea. Não existe a luta entre o Bem e o Mal. Na verdade, não há ninguém que se apresente como vilão, assim como não há um mocinho.
Há, como eu disse, diversos personagens diferentes, em núcleos distintos e com objetivos próprios. São bons personagens - em sua maioria sim. Mas são muitos. Esse número grandioso de personagens é um dos motivos de Jardins da Lua ser tão confuso. As linhas narrativas de diversos desses personagens nem sequer se tocam - ouso dizer que muitas das linhas são até desnecessárias para o desenvolvimento da trama principal.
E por haver diversos desenvolvimentos de tramas separados, ocorrendo em núcleos distintos, fica uma sensação de: "Mas que raios que está acontecendo aqui?". As coisas não parecem fazer o menor sentido no começo. Os acontecimentos são muito dispersos e há pouca explicação. Coisas acontecem e ponto final.
Mas elas acontecem muito rápido e sequer há tempo para se entender os motivos por trás - ou mesmo as possíveis consequências. De certa forma, tudo é muito frenético. Há partes do livro em que há diversas trocas de ponto de vista e cada uma dessas cenas contém dois, três parágrafos. É o estilo do autor, mas para o tipo de história que ele estava contando, na minha humilde opinião, não foi a melhor escolha.
Entendam: ele não escreve mal. Aliás, escreve muito bem. Mas Erikson colocava tanta informação em apenas três parágrafos que eu não conseguia ler mais de dez páginas sem começar a sentir dor de cabeça. Juro, durante esse mais de mês, fiquei em um estado de sofrimento psicológico, porque queria entender o que estava acontecendo e não conseguia. Não conseguia avançar na leitura com fluidez.
Quando me perguntavam sobre o que era o livro, eu nem ao menos conseguia explicar. Tem uma imperatriz. Ela quer uma cidade que está fora do seu domínio, mas todos esses planos de dominação tem envolvido traições. Tem uns Deuses envolvidos, mas não sei o que eles querem. Tem umas raças diferentes, que eu também não entendo. E era isso.
Somente fui entender o conflito cerne do livro na página 450. Ok. Então eu descobri sobre o que era. Mas me custou mais da metade do livro e toda a minha paciência. Quando terminei de ler, respirei aliviada. Tirou um peso dos meus ombros, pois não queria abandonar o livro, até porque todas as resenhas que li diziam que no começo a leitura era meio difícil, mas que depois ficava muito bom.
Estou esperando por esse depois até agora.
De fato, depois de algumas trezentas páginas, você se acostuma com o estilo. Os nomes dos personagens acabam ficando mais marcados e você consegue acompanhar os acontecimentos mais facilmente. Agora, muito bom mesmo não fica por causa das linhas narrativas "paralelas" que não agregam em nada ao desenvolvimento da trama.
Vou dar um exemplo mais claro sem muitos spoilers. Há deuses envolvidos na trama. Eles aparecem raramente, mas seu envolvimento é muito marcado pelos outros. O tempo todo o autor fala da intervenção dos deuses - e me pareceu que isso era muito importante, que faria uma grande diferente ao final do livro. Mas não fez. A maioria das intervenções passaram em branco. Poderiam nem existir.
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Por outro lado, o livro também seus pontos positivos. O autor tem muitos méritos. O universo de Jardins da Lua me convenceu. Dá para ver a preocupação com a construção do mundo. Como o próprio autor diz no prefácio, ele tinha muito material. E muito material bom. Os personagens, os lugares, as ideias das batalhas, tudo é um excelente mundo fantasioso.
Alguns personagens são muito melhores que outros, isso é verdade. Diria que são os que tem algum diferencial (Kruppe. Tenha esse nome em mente. Ao meu ver, ele é o melhor dos personagens). Mas no geral, o elenco dele é bom.
A grande sacada deste livro, contudo, é fazer desse universo fantasioso um grande jogo político. Tem batalha, tem; tem magias mirabolantes, tem. Tem dragões, tem tudo que uma fantasia merece. Mas o gatilho de cada desenvolvimento é mais político do que mágico. A todo momento alianças são feitas e quebradas, mais do que feitiços são conjurados.
Outro ponto que gostei bastante do livro foi o fato de cada parte e cada capítulo iniciar com um poema, todos criados pelo Erikson e relacionados ao universo do livro. Confesso que não entendi metade dos poemas (apesar de ter um feeling que tem algo a ver com a trama), mas a ideia em si foi o bastante para me conquistar.
Por fim, o último dos pontos positivos é a imprevisibilidade da trama. Muitos livros de fantasia, principalmente por seguirem a Saga do Herói, tem alguns pontos previsíveis. É a luta do Bem contra o Mal - o Bem vai ter alguns dificuldades, mas vai vencer no final. Quem vai ficar com quem e todas essas outras coisas.
Por não seguir este modelo, não dá para prever o desenvolvimento da trama em Jardins da Lua. Como sou do tipo de leitora que gosta de ser surpreendida, nesse sentido, o livro me convenceu também. Apesar do meu estado de impaciência enquanto lia, muitas cenas e muitas reviravoltas me surpreenderam.
Mas Luisa, no final de tudo isso, você recomenda Jardins da Lua? Sim, recomendo, mas leia com paciência. Leia anotando as informações se possível. Leia conjuntamente com outro livro. Repito, não é um livro fácil. Mais fácil é abandoná-lo do que persistir na leitura.
Acho que esse é o tipo de livro que demanda uma releitura. Pretendo eu mesma reler daqui algum tempo (preciso de um pouco de paz desse livro). Conhecendo a maioria dos personagens, sabendo o que vai acontecer, talvez eu aproveite mais a leitura.
E ai? Alguém ai já leu Jardins da Lua? Conta nos comentários o que achou!
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