Estuda, Loops!
  • Início
  • Sobre
  • Resenhas
    • Livros Lidos
    • Lista de Leitura
  • Categorias
    • Na Base do Café
    • Rotina
  • Livros e Contos


Está precisando de uma ajudinha para criar sua história? Seus personagens? O Degradê te ajuda!
Clique nas imagens para ler ou fazer o download e se divirta!







Está travado e não consegue criar? Não sabe sobre o que escrever?
O Degradê te ajuda.


1 – Feche os olhos e escolha um objeto ao seu redor. Sem abrir os olhos, pense no maior número de detalhes que conseguir se lembrar. Depois de três minutos, abra os olhos e escreva sobre o objeto sem olhá-lo.

2 – Escreva sobre um dia estranho no seu trabalho.

3 – Comece sua história com: “Teve uma oportunidade que eu peguei...”

4 – Escreva sobre uma das decisões mais difíceis que você já fez na sua vida.

5 – Liste 20 coisas que te irritam. Escolha uma e escreva sobre.

6 – Escolha uma de suas características físicas e escreva sobre como você pode mudar ou esconder essa característica.

7 – Escreva sobre o que você cozinharia para um inimigo.

8 – Escreva sobre uma tarefa ou um trabalho que você não gosta

9 – Você chega em casa e checa as mensagens do telefone. Você chega até a terceira e congela. Comece dai.

10 – Pense em 10 imagens para a seguinte frase: “Minha casa me faz pensar em...”

11 – Comece com “Hoje eu vou...” e escreva por dez minutos.

12 – Use em qualquer lugar da sua história: “Atrás dela, o barulho escalonou”

13 – O que acontece quando dois amigos visitam um casarão antigo, que foi herdado por um deles de um parente distante? Na casa tem um espelho de 100 anos que nunca quebrou.

14 – Em 90 segundos, liste itens que você pode encontrar em um aeroporto. Quando o tempo acabar, escreva uma história que inclua todos esses objetos. Sua história não pode se passar nem dentro nem  perto de um aeroporto.

15 – Use tudo em um poema: “uma cultura de solidão”, “céu azul fiel” e “onde ainda descobrimos”.

16 – Juliana Mendes, 53. Ela é extrovertida, mas fica deprimida facilmente.

17 – Complete a frase: “Eu andaria um quilômetro por...” e continue.

18 – Use o seguinte plot: ficar preso em um banheiro no dia dos namorados.

19 – Use em qualquer lugar de sua história: crescendo como uma erva

20 – Uma vez, eu sonhei sobre...

21 – E se você fosse escrever uma história sobre poder, tendo um policial como personagem principal e um par de sapatos velho como objeto chave? Sua história se passa em uma sala de operações.

22 – Por que um engenheiro comeria apenas uma vez por dia?

25 - O que você faria com uma máscara de unicórnio?

26 - Imagine um mundo onde tubarões nadam na floresta e, de alguma forma, você está perdido nela.

27 - Reconte uma história que você conhece, mas adicione monstros nela.

28- Complete a frase: “Eu gostaria que meus professores soubessem que...”

29 - Qual é sua primeira memória? Descreva.

30 - Você é um bom perdedor? Explique.

31 - Quais coisas crianças fazem e adultos não?

32 - Você faz amigos rápido ou devagar? Descreva como uma de suas mias importantes amizades se desenvolveu.

33 - Quais características sua futura casa terá? Por que?

34 - O que causa o racismo?

35 - Você preferiria ser amado ou respeitado? Por que?



  Caixa de Pássaros (em inglês, Bird Box) é um thriller psicológico pós-apocalíptico, do escritor americano Josh Malerman, que também é compositor e cantor de uma banda de rock chamada The High Strung. O romance é a obra de estreia de Marleman e foi publicado inicialmente no Reino Unido em 2014. No Brasil, o romance foi publicado pela Editora Intrínseca, tradução de Carolina Selvatici, com 272 páginas.
  A edição brasileira é muito boa, principalmente na questão do visual.A trama segue os passos da personagem Malorie durante dois tempos distintos: nos primeiros eventos envolvendo “O Problema”, que explicarei logo abaixo, que chamarei de passado, e aproximadamente cinco anos após o início destes eventos, o presente de Malorie.

  A narrativa não segue ordem cronológica, alternando episódios de presente e passado, e mesmo dentro destes dois tempos há algumas reflexões da personagem principal referente a períodos distintos. Apesar de ser narrado em terceira pessoa, a trama segue, em sua maioria, o ponto de vista de Malorie.


O Começo do Problema – Passado
  Malorie é uma estudante universitária que vive no sul de Michigan com sua irmã Shannon. Enquanto Malorie se preocupa com a descoberta de sua gravidez decorrente de um “one night stand”, sua irmã Shannon, viciada em televisão, se mostra envolvida com reportagens sobre pessoas enlouquecendo, atacando outros e, por fim, cometendo suicídio.
  Parecem apenas rumores. Apenas casos isolados. Logo no início, Malorie se mostra muito cética em relação às ocorrências, principalmente porque os primeiros casos acontecem na Rússia. Ela acredita que se tratam de coincidências, mas começa a admitir que realmente há algo de errado quando tais incidentes começam a aparecer no Canadá e ao norte de Michigan. As mortes são horríveis e, ao que parece, o surto se inicia quando se vê alguma coisa.
  Aos poucos, as pessoas deixam de conviver entre si, evitando olhares e até mesmo evitando sair de casa, fechando portas e janelas com lençóis escuros, papelão, colchões. TV e internet deixam de funcionar... Até as autoridades pedem que seus cidadãos fiquem em casa. Com medo, Malorie e Shannon se protegem dentro de sua própria casa.
  Não existe mais o mundo exterior. Só estarão seguras enquanto estiverem dentro de casa, onde não verão estas coisas que enlouquecem quem quer que as encontrem. Coisas estas que ninguém sabe o que é... Se não monstros, se são animais... As visões são chamadas de criaturas, mas ninguém sabe determinar exatamente o que são, como são. Todos que já as viram estão mortos.
  Quando Malorie encontra sua irmã morta dentro da própria casa, restando implícito que ela se suicidou após ver uma criatura, ela decide se abrigar em um refúgio que viu em um anúncio. Ao chegar na referida casa, Malorie conhece cinco sobreviventes que moram juntos: Tom, Don, Jules, Felix e Cheryl.
  Os episódios do passado mostram a incerteza da situação; todo o medo que os sobreviventes sentem e a insegurança que o mundo fora de casa lhe dá. Uma vez que eles não podem ver a criatura sem enlouquecer, tudo é vendado: portas e janelas, e toda que vez que precisam de algo do mundo exterior, como água, comida ou mesmo ajuda, sua única proteção contra o desconhecido são as vendas que cobrem seus olhos.

A Fuga – Presente
  Após quase cinco anos do início do Problema, Malorie está sozinha na casa que lhe serve de abrigo com duas crianças de quatro anos, chamadas de Garoto e Menina. Ambas as crianças foram criadas sem poder ver nada do mundo exterior, treinadas, contudo, a ouvir tudo – desde os passos de Malorie pela casa, até o cair de folhas do lado de fora e também o fluir do rio que passo ali por perto.
  As crianças desenvolvem uma audição quase que sobre-humana, audição esta que Malorie necessita para que os três possam fugir daquela casa em direção a um lugar que acredita ser mais seguro do que a casa em que vivem.
  Em uma manhã de neblina, Malorie decide se arriscar na jornada para qual se preparou desde o nascimento de seus filhos. A fuga consiste em remar através do rio que passa perto de sua residência até seu destino, vendada, sem nenhuma arma e contando apenas com a audição de seus filhos.

Opinião Pessoal
  Tentarei ao máximo ser fiel à minha real opinião sobre este livro ser dar muitos spoilers.
  Primeiramente, a narrativa de Malerman é muito envolvente. O autor conseguiu prender minha atenção desde o primeiro capítulo. De fato, o desenvolvimento da trama é devagar, mas faz parte do estilo. As descobertas são feitas pouco a pouco. O leitor que, como eu, não leu nenhuma resenha, que não sabe de nada da trama, demora a realmente entender o que está acontecendo.
  No primeiro capítulo só descobrimos que Malorie está fugindo. Mas fugindo do que, oras? Só saberemos depois, no final do capítulo seguinte. E é assim que a história é contada: com cada peça nos sendo entregue, uma a uma, aos poucos. Não há uma chuva de informações.
  Aliás, não há informações.
 Uma vez que em grande parte da trama os personagens vendados, no escuro, nos sentimos igualmente vendados. Tudo que sabemos é o que eles sentem, o que eles acham que existe, nunca o que realmente existe, o que realmente está lá.
 O grande triunfo do livro é exatamente esta brincadeira com o desconhecido, que não necessariamente é o mesmo para todo mundo. De fato, todos temem a mesma coisa, a criatura, mas esta criatura não tem forma expressa: a criatura pode ser qualquer coisa. Corporalmente falando, a criatura pode ser o que o sobrevivente (e o leitor) mais teme, ou pode ser algo que sequer o aterroriza, mas a criatura é, acima de tudo, o medo.
  Quero dizer, a criatura é personificação do medo.


  O triunfo deste livro é, portanto, brincar com as próprias percepções de medo do leitor. Afinal, do que você tem medo? O que seria capaz de te enlouquecer a ponto de você desejar tanto a morte que chega a cometer suicídio das formas mais horrendas que a sociedade pode imaginar? Repito: do que você tem medo?
  Eu, particularmente, tenho medo dois grandes medos: barulhos e escuro. Óbvio, tenho outros medos, como medo de morte violenta ou dolorosa, medo de violências em geral, mas os que importam para essa resenha e que são mais marcantes são meus medos de barulhos e escuro.
  Meu medo de barulho está muito vinculado ao susto que eu tomo. Não é como se eu tivesse medo de qualquer barulho. É mais a questão de não estar esperando que algo vá acontecer – ou seja, não estar esperando o barulho atravessando meus ouvidos. O inesperado me pega e eu grito. Pronto, esse é meu medo de barulho.
  O de escuro é um pouco mais “sério”. Não sou do tipo que não dorme no escuro. Quando estou em casa, ou mesmo na casa de algum parente ou amigo, por exemplo, durmo tranquilamente. Não acho que nenhum monstro vai sair do meu armário, não acho que tem bicho-papão embaixo da minha cama. Sei que estou segura e o escuro nessas situações não me incomoda.
  O que não gosto do escuro é a insegurança. Medo é uma coisa complicada de se explicar, então vou dar um exemplo para explicar melhor no que consiste meu medo de escuro. Recentemente fui a um daqueles jogos de Escape Room, que consiste em escapar de uma sala trancada em até sessenta minutos. Para conseguir sair, você precisa decifrar diversos enigmas dentro da sala.
  A minha trama consistia em achar documentos importantes e sair da sala antes que ela “explodisse”. Não teria explosão nenhuma. Era apenas um jogo. Mas o jogo, a vontade de sair, de vencer, o fato de a sala estar realmente trancada, minha mente imaginativa, a música de suspense que estava tocando, tudo isso me gerou um estado de nervosismo.
  Um estado de querer saber o que iria acontecer.
  Imagina como fiquei quando a luz apagou.
  Entenda, estava em um ambiente controlado e sabia que nada de ruim realmente aconteceria comigo, mas, ainda sim, meu cérebro não tinha consciência do que realmente aconteceria comigo. Consequentemente, fiquei com medo. Muito medo!
  Mas, Luisa, por que você está fazendo uma sessão de terapia no meio da resenha? Pois, como disse, o livro mexe com o maior dos seus medos. E esses dois são os meus.
  Em outras palavras, fiz todo este discurso para dizer que a criatura, o que quer que ela seja, não mexeu comigo. Apesar da consciência de que era a criatura que deveria ser minha fonte de medo, que deveria ser a personificação do medo, para mim a parte mais amedrontadora era o fato de Malorie e outros terem que se valer de vendas e de sua audição para ingressar no mundo exterior.
  Escuro e barulhos.
  Isso sim é amedrontador para mim. Tanto que é por isso que qualquer filme de terror porco, se tiver a trilha sonora e a sequência de quadros corretas, consegue me assustar facilmente.
  Apesar disto, não fiquei com medo em momento nenhum durante a leitura. Já tive livros e até mesmo relatos de experiências mais mundanas que realmente me deixaram arrepiadas, mas não este. No máximo, me deixou curiosa. Queria saber o que estava acontecendo.
  Não teve medo, teve encantamento pela premissa do livro. Pela trama no geral. Fiquei com aquele aperto no peito de: “MEU DEUS! Preciso terminar esse livro agora. Preciso saber o que vai acontecer.”, mas em momento nenhum me assustei, mesmo quando Malorie julgava que estava perto de uma criatura ou mesmo quando uma das personagens estava com medo da criatura ou, ainda, quando Malorie escutou a morte de alguém.
  Nada disso me deu medo ao ler.
  Vai entender?
  Ainda assim, a leitura foi muito prazerosa. A narrativa é viciante do começo ao fim, principalmente quando chega no clímax da trama. É reviravolta atrás de reviravolta. Uma pena, contudo, que não engoli o final. Em um determinado momento, muita coisa acontece ao mesmo tempo – e o final, bom...


  Vou deixar minha impressão, mas vai depender do leitor ler para entender o que quero dizer. O final é consistente com a premissa? Sim. Está dentro do universo e faz todo o sentido. Isto significa que eu gostei? Não. Não gostei do final, pois sou do tipo que gosta de histórias amarradas. E é tudo que posso dizer.
  Em resumo, a premissa, a trama, é maravilhosa; a grande maioria dos detalhes da narrativa é muito bem trabalhada (não todos, porque algumas coisas foram desnecessárias para mim). O desenvolvimento do enredo é impecável, com a alternância de momentos de pico e momentos de calmaria. Mas o final, para mim, deixou a desejar.
  Outro ponto que não me agradou muito foi a construção de personagens.
  Malorie é uma personagem consistente e seu desenvolvimento psicológico é bem claro na narrativa. Todas as suas reações são fundamentadas pelas circunstâncias, de forma que toda sua ligação com o Problema, desde a perda do seu ceticismo até o advento de sua frieza é muito bem trabalho. Apesar de ser a personagem principal, não é minha personagem preferida. Confesso que não costumo gostar de personagens principais em geral, mas admito o mérito de Malerman no seu desenvolvimento.
  Os personagens secundários Tom, Don e Garoto também foram muito bem trabalhados. Tom, que é um ex-professor de ensino fundamental, emana liderança e é claramente a personificação da esperança da casa. Seus objetivos são muito claros desde o primeiro momento, assim como sua maior frustração. Em resumo, é um personagem muito humano e com personalidade.
  Don, exatamente por seu ar problemático e, por vezes, antagonista, é também um dos personagens bons da trama. Sua forma de lidar com o Problema, querendo a todo custo sobreviver, mesmo que isso signifique não deixar mais ninguém entrar na casa, é plenamente plausível e eu não esperaria que fosse diferente. Sempre tem alguém que é mais frio que os outros – ou que, quando a situação aperta, pensa antes em si próprio do que em todo o resto do grupo. Natural e coube muito na trama.
  Garoto, de fato, não é cheio de personalidade, mas existe uma razão para isso. É um menino de quatro anos que nasceu e cresceu em universo de medo e insegurança. Criado e treinado como se dentro de um quartel de general, a única coisa que precisa fazer é escutar o mundo exterior. Basicamente, ele faz o papel dos ouvidos de Malorie, sua mãe, e é só isso que deve fazer. Não pode reclamar, não pode conversar. Só pode falar se estiver escutando algo. Uma super-criança do mundo apocalíptico.
  Entre os personagens bons, por fim, meu preferido é o Gary. Não apenas porque ele é diferente dos outros, não apenas porque seu discurso é contrário ao discurso de medo que dominou a humanidade, mas porque eu sou apaixonada por cofcofvilõescofcofdoidoscofcof. Nada mais direi. Leiam e entendam – ou não entendam, porque com certeza tem quem não goste dele.
Tirando estes personagens, todos os demais são, de certa forma, desnecessários. Talvez desnecessários seja uma palavra muito forte; quero dizer que eles não têm personalidade. Não têm história. Não tem paixão. Não tem expectativas.
  De fato Jules é o parceiro de Tom nas jornadas pelo mundo exterior e ele é dono do cachorro Victor, a quem ama muito. Mas é tudo que sei dele. Felix, por sua vez, adora uma maconha. Sua única participação importante na trama é um dos planos que elabora com Tom. Só.
  Cheryl é só um nome para mim. Nada mais. Ela podia ter sido misturada com Olympia. Uma só entre as duas seria o suficiente. Quanto a Olympia, perdão pelo spoiler, mas achei um pouco clichê a gravidez dela. Aliás, achei muito clichê o fato de os dois bebês nascerem na mesma hora. Em consequência, não me apetece muito o fato de a Malorie ficar com os dois bebês no final. Para mim, um era o suficiente, independente do sexo.
  Aliás, só jogando pra cima, já que quem não leu talvez não entenda, não gostei de toda a cena do parto. Quero dizer, não do parto em si, mas do que acontecia em paralelo a isto. Em parte porque torci por alguns personagens, em parte porque queria um pouco de romance naquele pandemônio todo. Não teve.


Dito tudo isso, pode parecer que não gostei do livro. Pelo contrário, gostei bastante. A leitura em si me cativou muito. Tive alguns desgostos pontuais sim, mas tenho consciência que eles são tão pessoais que provavelmente passariam despercebidos por outras pessoas. Apesar dos meus sentimentos dúbios em relação ao livro como um todo, ainda sim indicaria a leitura.





Conto: Negrinha - Monteiro Lobato



Narrado em terceira pessoa, Negrinha conta a história de uma menina negra, orfã muito nova, criada pela senhora patroa de sua mãe quando viva.
  Pequena e assustada, Negrinha se escondia pelos cantos da casa, sempre com medo do que a senhora faria com ela. Criada em meio a surras e pontapés, a menina não tinha senso do que era certo ou errado: um mesmo ato provocava algumas vezes a ira da senhora e em outra vezes fazia a rir.
  Assim ela cresceu, em meio a castigos, sem uma única palavra de carinho, tratada como escrava, mesmo sendo apenas uma criança que sentia correr por suas veias um único desejo: ser realmente uma criança, poder correr, brincar, se divertir, sem temer o que dona Inácia faria.
  Em meio a tanta tortura e sofrimento, Negrinha provou, finalmente, do gosto que a muito esperava: quando as sobrinhas de D. Inácia, pequeninas como Negrinha, passaram as férias com a tia, a orfã recebeu, por um momento, o carinho de mãe que nunca teve ao ter a permissão da patroa para brincar com os "anjos louros".
  Mesmo quando os tais "anjos louros" partiram, Negrinha continuou presa ao estado de êxtase, o qual a matou. Conforme o tempo passava a menina se afundava mais no poço da depressão. No entanto, seus últimos suspiros foram o suficiente para que a morte a levasse feliz.
Em todo o texto percebe-se o uso de Lobato da objetividade, mesmo nas descrições das personagens. Com poucas palavras, ele nos dá a personalidade de Negrinha, assim como a de D. Inácia, não chateando o leitor com longas descrições desnecessárias.
Nota-se também a constante presença da ironia, em especial quando se trata de Dona Inácia, como em "excelente senhora a patroa", por exemplo.
  No conto, os esteriótipos da época que é indicada são retratados através das personagens principais: Negrinha representa a classe escrava que vive em meio ao eterno sofrimento. Seu único entendimento da vida era servir e obedecer aos patrões, mais por medo do que por respeito, afinal, sem tais patrões, eles estariam em uma situação pior que já estavam.
  Por outro lado, D. Inácia representava os patrões; através dela o óbvio preconceito da época era apresentado. Em meio a personalidade da patroa, características como a impaciência e a parcialidade estão presentes, e são essas, principalmente, as que contribuem com o sofrimento de Negrinha.
  Um ponto importante sobre Inácia era o fato de nunca ter dado a luz. O próprio autor comenta, pelas entrelinhas, que a existência de Negrinha seria diferente se a patroa tivesse seu próprios filhos. A ausência desses filhos, no entanto, foi essencial para a contextualização do conto, pois, sendo as duas personagens a retratação do patrão e do escravo, uma possível amenização dos maus-tratos contra Negrinha estaria fora da realidade do contexto histórico.
  A originalidade do texto está no fato de ele ser escrito de forma favorável ao negro, apesar da presença de preconceito por parte de D. Inácia. Mesmo narrado em terceira pessoa, é como se a história fosse contada pelo ponto de vista da menina, mostrando o quão grande era o sofrimento dos escravos; o texto não diz, portanto, que o escravo era merecedor de tal sofrimento.
  No entanto, mesmo levando em consideração o ponto de vista do escravo, o autor ainda sim era realista. Mesmo que Negrinha não merecesse a vida a qual era imposta a ela, o que ela tinha era aquilo, e qualquer coisa diferente daquilo não seria real, o que prova as ideias citadas acima.
  De fato, essa obra está recheada com um tema polêmico e pode ser considerada não recomendável para crianças pela presença do preconceito e dos maus tratos, porém, o fato da personagem principal ser uma menina tão nova é o que traz a lição que o conto leva consigo. Se bem trabalhado, tanto o público adulto quanto o infantil, a quem o texto foi, originalmente, dirigido, poderão captar a mensagem que existe no conto sobre o tão polêmico assunto.





Minha cama acordou mais fria hoje.

Você chegou nem lembro quando - eu era tão nova que é como se você vivesse comigo desde sempre. Você era menor que um coelho, marrom feito chocolate e dormia em uma caixa de sapato. Era agitadíssima e muito curiosa. Lembro que entrava na mini-cozinha que eu tinha na época e jogava tudo para fora. Foi como encontrou seus primeiros brinquedos - a xícara que te deixava com nariz de palhaço e o balde que era maior que sua cabeça. Acho que você gostava de vermelho - os dois tinham a mesma cor. Lembro de você correndo atrás deles e escorregando. Convenhamos, você era chatinha quando decidia que queria brincar - era difícil não ceder ao seu latido ardido.


Você era ciumenta - quando alguém estava com a cabeça deitada no colo da mamãe, você logo se aproximava e delicadamente empurrava a pessoa para fora. Aliás, você sempre foi espaçosa - vivia roubando o lugar dos outros no sofá e praticamente me empurrava da minha cama. Também tomava posse do meu travesseiro. Bem capaz de você achar que era tudo seu; você achava que era gente.

Como gente que era, você tinha suas manias. Gostava de ficar no topo do sofá feito esfinge, apenas observando tudo - aliás, observando o que estávamos jantando para saber se valia a pena pedir seu parcela. Volta e meia andava por ai com seu cobertor, achando que era da realeza.

Tinha também suas exigências, como seu sono de beleza. Quando eu passava do horário, você logo começava a latir. Eu bem sei que você não parava até que eu te colocasse na minha cama. Você se enroscava no meu braço, na minha barriga; nas noites de verão era até insuportável, mas confesso que gostava de te ter por perto.

É por isso que dói tanto - saber que você não estará mais aqui; que nunca mais chegarei em casa e te verei esperando ao pé da porta; que não terei mais seus olhos enormes me observando do outro lado do quarto; que seu latido não vai me acordar no meio da madrugada; que você não vai mais arranhar minha cama, pedindo para dormir comigo.

Você estava sofrendo, eu sei, mas meu lado egoísta queria que você ficasse. Não estava e ainda não estou pronta para te deixar ir. Mas você já não estava mais aguentando, não é? Nas últimas noites, quando você não deixou ninguém dormir, era um pedido de ajuda, não era? É só isso que torna as coisas um pouco menos difíceis, saber que você já estava até se entregando... Mas não é fácil te deixar ir.

Se existe um céu, espero que esteja bem.

Descanse em paz, pulguinha.



Postagens mais recentes Página inicial

SOBRE

Photo Profile


Luísa Scheid nasceu e cresceu em São Paulo. É advogada e tem interesse especial em Direito Penal e Criminologia. Atualmente estuda para concurso público. É editora da Revista Maçã do Amor.

Encontre-me

  • twitter
  • instagram
  • pinterest
  • instagram
  • tiktok

Marcadores

  • .artes.
  • .bullet journal.
  • .de escritor para escritor.
  • .desabafos.
  • .desafio literário.
  • .let's go loops.
  • .lettering.
  • .na base do café.
  • .nanowrimo.
  • .processo criativo.
  • .projetos e desafios.
  • .prompts.
  • .resenhas.
  • .rotina.
  • .vida de concurseira.

Arquivo

  • ▼  2024 (3)
    • ▼  agosto (2)
      • Registro de Leitura: Polímata (Filosofia)
      • O Projeto do Polímata
    • ►  janeiro (1)
  • ►  2023 (5)
    • ►  janeiro (5)
  • ►  2022 (4)
    • ►  janeiro (4)
  • ►  2021 (5)
    • ►  dezembro (4)
    • ►  abril (1)
  • ►  2020 (27)
    • ►  dezembro (2)
    • ►  novembro (1)
    • ►  outubro (2)
    • ►  julho (2)
    • ►  junho (2)
    • ►  maio (5)
    • ►  abril (5)
    • ►  março (3)
    • ►  fevereiro (1)
    • ►  janeiro (4)
  • ►  2019 (10)
    • ►  dezembro (3)
    • ►  setembro (1)
    • ►  junho (1)
    • ►  fevereiro (3)
    • ►  janeiro (2)
  • ►  2018 (22)
    • ►  dezembro (3)
    • ►  setembro (3)
    • ►  junho (4)
    • ►  maio (2)
    • ►  abril (4)
    • ►  março (1)
    • ►  janeiro (5)
  • ►  2017 (2)
    • ►  novembro (2)
  • ►  2016 (2)
    • ►  setembro (1)
    • ►  março (1)
  • ►  2015 (1)
    • ►  setembro (1)

Copyright © 2016 Estuda, Loops!. Created by OddThemes